Hoje trago a vocês o primeiro episódio da série “DESASTRES DA ENGENHARIA”, hoje contarei a trágica história do desabamento do edifício Palace II, pelos olhos de um engenheiro civil.
O Edifício Palace II, tinha 22 andares e 172 apartamentos, ele era parte integrante do condomínio residencial Palace. O Palace II iniciou sua construção em 1990 com previsão de entrega em 1995, sendo este prazo não cumprido. A construtora SERSAN, responsável pela construção foi processada 4 vezes em virtude da má construção, não recebendo sequer o habite-se da prefeitura.
Primeiro desabamento
O Palace II desabou parcialmente na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, na madrugada de 22 de fevereiro de 1998, deixando 8 vítimas fatais e 130 famílias desabrigadas. O desabamento teve repercussão nacional principalmente devido ao fato de Sérgio Augusto Naya, engenheiro e dono da construtora responsável pela construção do edifício ser na época deputado federal.
Segundo desabamento
No dia 24 de fevereiro a prefeitura do RJ anunciou que o edifício seria implodido em 5 dias, ou seja, no dia 01 de março. Porém, no dia 27 de fevereiro, um laudo técnico recomendava aos moradores que voltassem ao edifício para recuperar seus pertences. Meia hora antes da entrada dos moradores, houve um segundo desmoronamento com toneladas de água vindas do terraço.
Essa coluna d’agua é alvo de especulações até os dias de hoje, pois na época se assumiu-SE que a caixa d’agua teria sido drenada, por razões de segurança, antes da entrada dos técnicos para instalação dos explosivos para implosão. Ainda no campo das especulações, haviam informações que os próprios técnicos da implosão teriam pré-instalado uma grande quantidade de água na cobertura, para que no momento da implosão a quantidade de material particulado na região fosse menor. Nenhuma destas informações relacionadas ao segundo desmoronamento foi confirmada.
Implosão
Com isso, a implosão foi acelerada e ocorreu no dia 28 de fevereiro de 1998, às 10h30min.
Guerra Judicial
Após a queda do edifício iniciou-se uma briga judicial onde os engenheiros Sergio Naya (dono da SERSAN) e Sérgio Domingues (Diretor técnico da Sersan que acompanhava a obra), colocavam a culpa em José Roberto Chendes, o engenheiro calculista, e vice-versa. No entanto, os laudos da época apontaram erros no cálculo estrutural e utilização de materiais de qualidade duvidosa e, desta maneira, ambos poderiam ter contribuído com o desfecho trágico do Palace II. Outra polêmica gerada na época foram as diferentes conclusões dos laudos sobre o acidente.
Laudo vs Laudo
O laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) apontou erros na execução da obra mas os considerou como desprezíveis. O laudo do ICCE concluiu que o Palace II desabou devido a um erro generalizado de projeto estrutural, segundo o ICCE 78% dos pilares teriam sido construídos abaixo do padrão técnico e dois deles (P4 e P44A), que deveriam sustentar 480 toneladas, teriam sido construídos para suportar apenas 230 toneladas, tendo estes portanto coeficiente de segurança de 0,66, muito abaixo dos 1,4 definidos até então pela NBR 6118.
O engenheiro responsável pelo projeto estrutural do edifício Palace II, disse na época ter certeza de que o prédio caiu devido à utilização de material de baixa qualidade. O calculista admitiu ter liberado a planta de locação e as cargas dos pilares sem cálculos precisos do peso que os pilares deveriam suportar. Por estimativa, o calculista definiu que os pilares extremos que cederam, P4 e P44A, deveriam suportar 480 toneladas. Depois, ao fazer a planta de armação dos pilares, levou em conta o peso real que teriam de suportar, de 260 toneladas. O engenheiro afirmou que isso aconteceu porque a construtora tinha muita pressa em iniciar a obra e que por isso liberou a planta de locação com o peso dos pilares majorados, para dimensionar a fundação do prédio. O calculista defendeu-se dizendo que superdimensionou apenas no início, apenas para embasar a fundação e que isso não podia ser comparado no peso real usado na planta de armação. O engenheiro ainda afirmou, na época, que nunca uma obra com diferença de 200 toneladas ficaria estável por dez anos. O calculista do Palace II não tinha as cópias do projeto estrutural e as plantas também não haviam sido registradas no CREA.
Já laudos preparados pelo Departamento de Vistoria da Secretaria Municipal de Urbanismo da Cidade do Rio de Janeiro e por uma empresa particular contratada pelas vítimas do Palace II concluíram que os erros de execução foram tão determinantes quantos os de cálculo para a queda do edifício. Nestes dois laudos concluiu-se que o Palace II desabou devido a erros de cálculo somados a erros na execução da obra.
Na época do acidente, o CREA-RJ divulgou uma nota à imprensa também divergindo do laudo conclusivo do ICCE, e relatando que além dos erros de projeto vários erros de execução concorreram para o desabamento, dentre eles a grave falta de atenção profissional na execução dos pilares que ruíram inicialmente.
Entre os erros de execução apontados nos laudos estavam a deficiência de cobrimento das armaduras, ausência de estribos suplementares dos pilares, concreto fraco, com muitas bolhas de ar e possivelmente feito com areia do mar. No meio dos destroços, engenheiros encontraram conchas do mar misturadas ao concreto e em quatro pilares foram encontrados pedaços de madeira, sacos de cimento, plásticos e jornal misturados ao concreto.
O outro edifício do condomínio, o Palace I teve de ser recuperado estruturalmente logo após a ruína do Palace II, por apresentar problemas graves em dois pilares, o que reforçou os laudos que apontavam o erro de cálculo como principal culpado pelo desabamento.
Os réus
O engenheiro calculista, José Roberto Chendes, foi considerado culpado em 2005. Ele foi condenado a dois anos e oito meses de prestação de serviços comunitários e impedido de exercer sua profissão durante o período. Atualmente (Julho de 2018), o engenheiro consta como ativo no CONFEA.
O empresário e ex-deputado chegou a ser detido duas vezes. Em 1999, ficou 26 dias na Polinter, no Rio e em 2004, voltou a ser preso em Porto Alegre, quando tentava fugir para Montevidéu, e ficou preso por quatro meses.
Em 2001, Naya e Domingues foram absolvidos criminalmente pelas 8 mortes e na sentença o juiz, com base em análises técnicas, também refutou a hipótese de que a Sersan teria usado água e areia do mar na obra do Palace II, o juiz considerou ainda que a Rede Globo foi “mentirosa” na divulgação da informação sobre o desabamento. A sentença ataca a emissora, que “noticiou de forma desleal as conclusões da prova técnica”. Ele também negou que foram encontrados materiais estranhos nas obras como conchas, madeira, plástico e papel no concreto em concentrações maiores que as que infelizmente são encontradas normalmente em obras.
Já em 2002 Sergio Naya e Sérgio Domingues foram responsabilizados penalmente, tendo que pagar respectivamente 360 e 200 salários mínimos à cinco entidades públicas com destinação social e a Sersan teve seus bens bloqueados para pagar as indenizações às famílias.
Em 2005 a decisão manteve a sentença dada em primeira instância e anulou a decisão de 2002.
Sérgio Naya faleceu no ano de 2009.
Em 2018, 20 anos após o desabamento, o pagamento das indenizações ainda não foi concluído.
Fontes:
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/183655/000538516.pdfhttps://www.ibccrim.org.br/artigo/389-Decisoes-Sentenca-do-caso-Sergio-Augusto-Naya-Edificios-Palace-I-e-II-RJ
http://www.jf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/viewFile/516/697
http://www.dgabc.com.br/Noticia/145723/naya-e-absolvido-no-processo-pelo-desabamento-do-palace-2
4 Comentários
Com todo respeito, este texto se parece mais com a farra midiática em torno da tragédia do Palace II do que propriamente um relato técnico de engenheiro. Tudo levava a crer que o Palace II tinha conserto. Tanto, que encontraram os mesmos erros no "irmão gêmeo" Palace I. Os erros foram consertados e o Palace I está lá até hoje. Foi uma sucessão de erros (de engenharia e muito mais da mídia e de governantes irresponsáveis) que levou à implosão precipitada do Palace II. Procure ler o livro "Palace II - A implosão velada da engenharia" do engenheiro José Celso da Cunha, calculista que deu um parecer, na época, de que o edifício tinha conserto. Mas foi crucificado pela mídia e pelo próprio CREA/MG. Depois, o CREA foi obrigado a pedir desculpas públicas ao mesmo. Vou deixar o link com a entrevista do engenheiro.
ResponderExcluirhttp://piniweb17.pini.com.br/construcao/noticias/entrevista-jose-carlos-da-cunha-85943-1.aspx
Olá Michel, obrigado pelo comentário.
ExcluirPara apresentar os fatos verdadeiros (conforme apresentei no vídeo e no texto) eu preciso abordar o que a mídia divulgou e está na mente das pessoas até hoje. Como no caso de utilização de areia do mar, por exemplo.
Todas as principais informações do vídeo estão de acordo com o último julgamento realizado em 24 de maio de 2001, conforme fonte apresentada no fim do texto (data posterior a do link que você postou).
Vale reforçar que fiquei muito feliz com seu comentário, pois é um sinal que você realmente leu o texto e assistiu ao vídeo com atenção e formou sua opinião. Discordo de parte do seu ponto de vista mas aqui em meu site, desde que seja respeitoso, visões distintas são sempre bem vindas. Até mais, abraço.
O que mais me impmressiona é: como o prédio estava habitado sem HABITE-SE? COMO? Negligência até dos moradores, miserável!!
ResponderExcluirPerguntas que nunca teremos resposta, infelizmente...
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